Na América Latina e no Caribe, Brasil lidera o ranking de teorias fake News sobre o tema. Pesquisa analisou mais de 60 milhões de mensagens de 2019 a 2024.
A desinformação sobre autismo cresceu 15.000% nos últimos cinco anos nos países da América Latina e do Caribe – e o Brasil lidera o ranking de fake News sobre o tema. Isto é o que revela um estudo da FGV em parceria com a Associação Nacional para Inclusão das Pessoas Autistas. Este aumento foi ainda mais acentuado durante a pandemia de COVID-19, com um impressionante crescimento de 635% nos primeiros anos do surto global.
A pesquisa “Desinformação sobre autismo na América Latina e no Caribe” analisou mais de 60 milhões de mensagens em grupos do Telegram em 19 países, entre 2019 e 2024. As mensagens monitoradas estão em cerca de 1.600 grupos e canais, com 5,4 milhões de usuários.
Os dados foram coletados exclusivamente de grupos e canais abertos no Telegram.
O coordenador do estudo, Ergon Cugler, disse que o resultado é um alerta urgente.
“Estamos diante de uma epidemia digital, em que mães, pais e familiares são bombardeados por mentiras perigosas disfarçadas de orientação. A internet tem se tornado um terreno fértil para a exploração do medo, onde curas milagrosas e teorias absurdas ganham mais alcance do que a ciência. Assistimos preocupados a desinformação se transformando diariamente em modelo de negócio”, disse Cugler.
Guilherme de Almeida, coautor do estudo e presidente da Autistas Brasil, afirma que muitos desses tratamentos são vendidos como soluções milagrosas, muitas vezes por influenciadores que buscam tirar proveito da desinformação. “Muitas dessas terapias são comercializadas pelos próprios autores das postagens, transformando o desespero das famílias em negócio”, alerta Almeida.
O estudo também dividiu as mensagens por temas, o que mostrou que o autismo é, nestes grupos, muitas vezes relacionado ao movimento antivacina, ao globalismo e a teoria da “Nova Ordem Mundial”, que propaga que existe uma tentativa de redução da população mundial.
Os pesquisadores listaram ainda 150 falsas causas para o autismo. As vacinas lideram entre as mentiras disseminadas. Entre as falsas causas, também estão o uso do 5G, o uso de pastas de dente, os rastros deixados por aviões no céu e até o consumo de Doritos. Veja as 10 falsas causas mais citadas:
- Vacina
- Covid
- Parasita
- Milho
- 5G
- Alumínio
- Mercúrio
- Metal
- IgG
- Vírus
O estudo também listou 150 falsas curas, como ozonioterapia, terapia de eletrochoque e o consumo de substâncias tóxicas, como dióxido de cloro.
“Muitos desses produtos e práticas são comercializados abertamente por grupos que exploram o desespero de familiares, lucrando com a monetização da mentira e colocando vidas em risco”, afirma o estudo.
“O que começou como desinformação durante a pandemia foi se consolidando e transformando-se em um fluxo contínuo de teorias perigosas”, afirma Cugler.
Riscos
Os efeitos da desinformação são profundos, adverte Almeida. Além de comprometer o diagnóstico precoce do TEA, ela atrasa o acesso a tratamentos adequados, favorece o uso de terapias ineficazes e reforça estigmas que isolam ainda mais as pessoas autistas. A desinformação também pode desviar recursos públicos e privados para práticas pseudocientíficas, enfraquecendo políticas públicas sérias voltadas para a inclusão de pessoas autistas.
Estratégias de combate à desinformação
Para combater o avanço da desinformação, os pesquisadores defendem que a sociedade precisa estar mais atenta aos conteúdos divulgados em redes sociais, especialmente quando envolvem apelos emocionais e carecem de comprovação científica. Além disso, Cugler destaca a necessidade de responsabilizar criminalmente aqueles que lucram com a disseminação de mentiras e exigir maior responsabilidade das plataformas de redes sociais na limitação de conteúdos prejudiciais à saúde pública.
O estudo reforça que, em tempos de mercadores da esperança, a conscientização e a educação são essenciais para fortalecer a capacidade crítica da população e reduzir a propagação de informações enganosas.
Com informações de Agência Brasil e G1