O que fazer para garantir que a mudança de rotina seja mais tranquila e menos impactante?
O processo pode ser desafiador, mas, com o suporte adequado, dá para tornar a experiência mais tranquila e positiva, segundo especialista.
É importante que os pais e a escola tenham paciência e flexibilidade, respeitando o ritmo de cada criança
Adaptação. A palavra representa um processo, um caminho, uma jornada até que alguém se habitue a alguma mudança, que pode ser de rotina, de ambiente, de atividade — ou de tudo isso junto, no caso da adaptação escolar. É um período importante e complexo, que acontece até que as crianças se acostumem ao fato de que passarão algumas horas do dia em um local diferente, fora do convívio familiar, fazendo atividades, aprendendo, convivendo com os colegas, respondendo aos professores.
Os desafios são para todos, mas, para crianças que estão no Transtorno do Espectro Autista, podem ser específicos. Em alguns casos, mais intensos, em outros menos. Porém, todos podem ser superados, se o aluno receber um bom suporte – tanto da parte da escola, quanto da família.
De acordo com a psiquiatra Tâmara Marques Kenski, da Clínica Psiquiátrica Perin (SP), cada criança é única e a adaptação pode variar. De maneira geral, durante este período, o que se pode esperar é:
-
Dificuldade em mudanças de rotina e ambiente.
-
Sensibilidade sensorial a estímulos (luzes, sons, contato social).
-
Dificuldade de socialização e comunicação com novos colegas e professores.
-
Episódios de ansiedade ou comportamentos de autorregulação.
“É importante que os pais e a escola tenham paciência e flexibilidade, respeitando o ritmo de cada criança”, explica.
Como os pais devem agir?
A família é a base da criança e tem um papel fundamental para que a criança passe a se sentir confortável na escola. Quando os pais estão confiantes e participam do processo, o aluno também enfrenta as dificuldades com maior segurança. “É importante estarem envolvidos, mas em equilíbrio para permitir a autonomia da criança”, observa Tâmara. Conforme a psiquiatra é importante que a família:
-
Prepare a criança de maneira gradual para essa nova fase, explicando o que vai acontecer e como deve ser;
-
Visite a escola com a criança antes do início das aulas para familiarização;
-
Converse bastante sobre a mudança, usando imagens, contando sobre a escola nova e respondendo às perguntas de forma simples e direta;
-
Mantenha uma rotina previsível e estruturada em casa, semelhante a que a criança terá na escola;
-
Mantenha a comunicação com a escola, informando sobre preferências, gatilhos sensoriais e estratégias eficazes com o seu filho;
-
Pratique o reforço positivo, incentivando e valorizando pequenos avanços na adaptação;
-
Promova o apoio terapêutico, mantendo o acompanhamento de profissionais (psicólogos, terapeutas ocupacionais) para suporte extra.
Como a escola deve ajudar?
Na outra ponta, a escola, é claro, também precisa de estratégia para receber o aluno da melhor forma, integrando-o ambiente, com todo o acolhimento necessário. O que a instituição deve fazer:
-
Criar estratégias personalizadas, conforme as necessidades da criança;
-
Disponibilizar um profissional de apoio, se necessário;
-
Oferecer uma rotina previsível, com cronogramas;
-
Garantir que professores e equipe tenham capacitação e estejam preparados para lidar com as necessidades do TEA;
-
Incentivar interações respeitosas com os colegas.
Como saber se a criança com TEA está, finalmente, adaptada à escola?
Quando a criança demonstra conforto com a rotina e ambiente, este é um sinal de que a adaptação está indo pelo caminho certo
Não existe receita ou limite de tempo para determinar quando, de fato, é possível atestar que a criança está adaptada ou, então, que aquela escola não funcionou para ela e é preciso buscar novos caminhos. No entanto, é importante observar os sinais e o comportamento do seu filho, além de seguir com o acompanhamento e conversar bastante com ele – e com os responsáveis na escola.
“Quando a criança demonstra conforto com a rotina e ambiente, este é um sinal de que a adaptação está indo pelo caminho certo”, indica a psiquiatra. “Ela também vai passar a formar vínculos, mesmo que sutis, com colegas ou professores, reduzir a frequência de crises ou comportamentos desregulados e demonstrar interesse em retornar à escola com menos resistência”, acrescenta.
Em alguns casos, no entanto, acontece, sim, de ser necessário que a família considere outra escola, sobretudo diante da falta de suporte adequado da instituição. Também pode ocorrer quando o ambiente é excessivamente desafiador e não adaptado às necessidades sensoriais ou se há impacto negativo significativo na saúde emocional da criança, com regressão ou crises constantes.
Direitos das crianças com autismo na inclusão escolar
Conforme a Lei Brasileira de Inclusão, os alunos que estão no TEA têm direito a:
-
Matrícula em escola regular: não podem ser recusadas sob nenhuma justificativa.
-
Atendimento especializado, com adaptações curriculares e apoio necessário.
-
Profissionais capacitados: a escola deve fornecer suporte técnico e pedagógico adequado.
-
Acessibilidade: adaptações físicas e pedagógicas devem ser implementadas.
-
Mediação escolar: se necessário, um profissional de apoio pode ser disponibilizado, conforme decisão da equipe multidisciplinar.
-
Não discriminação: proteção contra qualquer forma de exclusão ou segregação.
FONTE: CRESCER / FOTOS FREEPIK