MESTRADO PROFISSIONAL DA USP POSSIBILITA PATENTE DE PROJETO QUE AUXILIA DIAGNÓSTICO DE AUTISMO

Startup denominada Braine (Brazilian AI for Neurodiversity, ou Inteligência Artificial para a Neurodiversidade) auxilia no diagnóstico e acompanhamento de autismo por inteligência artificial

O estudante da Faculdade de Economia, Administração e Atuária (FEA) da USP, Gabriel Cirino, desenvolveu uma startup que auxilia no diagnóstico e acompanhamento de autismo por inteligência artificial, a Braine. O berço do modelo de negócio foi a disciplina Lean Startup e Modelo de Desenvolvimento de Produtos, ministrada pelo professor Alvair Silveira Torres Junior no Mestrado Profissional em Empreendedorismo (MPE) da FEA. Pelo ineditismo da iniciativa, Cirino pediu o registro da patente para o produto.

A Braine — Brazilian AI for Neurodiversity, ou Inteligência Artificial para a Neurodiversidade — é a primeira plataforma brasileira que combina inteligência artificial e empatia humana para democratizar diagnósticos e cuidados em saúde mental e neurodiversidade. “Nosso propósito é  tornar o cuidado acessível, alcançando milhares de pessoas”, diz Cirino. Ele conta que, ainda no primeiro trimestre de 2025, a startup deverá lançar três produtos: o Aura T, que torna o diagnóstico de condições neurodivergentes mais acessível; a Care, uma plataforma de cuidado acessível e responsável com terapias assistidas; e Bruna IA, uma assistente virtual para auxiliar as famílias. A inteligência artificial auxilia o paciente e a comunidade envolvida em seu cotidiano a lidar com os diferentes cuidados necessários. “Em fevereiro talvez já tenhamos versões de testes destes três produtos”, antecipa o pesquisador.

Cirino explica que os custos de diagnósticos podem custar até R$ 6 mil. “Além disso, o tempo médio de um processo desses pode chegar a seis meses. As ferramentas usadas atualmente não são brasileiras. Em geral, são questionários elaborados em contextos e locais diferentes”, lembra Cirino. Os três produtos que serão lançados em 2025, além de custos menores, irão propiciar diagnósticos mais rápidos e precisos. O sistema Aura T pode ser adquirido por profissionais e familiares de pacientes neurodivergentes e oferece informações validadas pela ciência. A Care, que poderá ser adquirida pelo profissional e também por familiares, traz históricos de cuidados, resultados de estudos, evoluções de pacientes e mostra possibilidades de rápidas resoluções. Já a Bruna IA é um sistema que traz informações gerais sobre neurodivergências e consegue possibilitar os primeiros cuidados. Todas essas possibilidades são realizadas por softwares e aplicativos que serão disponibilizados a custos menores que os aplicados em cuidados convencionais.

Por que Braine?

Imagem: Homem branco usando óculos redondos, calvo e com barba cerrada

Gabriel Cirino é aluno de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (ECA-USP) e cursou disciplinas do MPE na FEA para desenvolver seu negócio. Publicitário, levou 15 anos para se formar em Comunicação Social, até descobrir aos 32 anos que tem Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). “Eu não entendia por que eu não dava conta, mas depois do diagnóstico consegui ter qualidade de vida”, conta Cirino. A partir do conhecimento dessa condição e da convivência com seu afilhado autista, surgiu a Braine, que busca melhorar a qualidade de vida de pessoas neurodivergentes.

“A ideia começou com o diagnóstico, mas a gente viu a oportunidade de levar a inteligência artificial para outras entregas de valor, principalmente como uma ferramenta de apoio aos psicólogos que utilizam o método ABA [Applied Behavior Analysis – Análise do Comportamento Aplicada] ou o TCC [Terapia Cognitivo-Comportamental]”, explica. A inteligência artificial analisa os dados e os entrega para que o profissional possa interpretar os padrões e identificar possíveis encaminhamentos: “O que a ferramenta faz é encurtar o processo, que hoje leva seis meses, e identificar mais facilmente os padrões nos dados”.

Para a idealização do projeto, Cirino combinou métodos científicos aprovados pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) e a inteligência artificial atuando como uma ferramenta de gestão. “A gente faz pesquisas com psicólogos para transformar um processo analógico para o digital”, afirma. Cirino classifica a Braine como uma deeptech de impacto, ou seja, “ela tem o aprendizado aprofundado da academia e o impacto na vida do cliente”.

Lean Startup

A disciplina ministrada pelo professor Alvair Torres Junior aborda os conceitos e aplicações do modelo de desenvolvimento lean. Ele surgiu a partir do estudo da indústria automobilística da Toyota, que identificou um modelo de gestão diferente do que se praticava no mundo. Como ele poderia ser utilizado em qualquer negócio, deram o nome de lean (enxuto), uma vez que proporciona grandes resultados com menor utilização de recursos.

“A gente aborda a aplicação desse modelo de gestão no desenvolvimento de novos negócios, juntando aquilo que a Toyota tinha desenvolvido com uma outra vertente criada no Vale do Silício para startups”, explica Alvair. Dividida em duas partes, a disciplina apresenta os conceitos do modelo de negócio lean e sua aplicação. Gabriel e os colegas escolheram a Braine para ser acompanhada no passo a passo do método. “A disciplina foi um ponto de inflexão no meu empreendedorismo”, afirma Cirino.

O modelo lean busca identificar quais são os atributos de valor mais apreciados pelos clientes e stakeholders (partes interessadas). “Atributos de valor podem ser: confiança, sustentabilidade, rapidez, precisão, custo, estética, status etc. A partir desse núcleo é que se constrói o negócio”, define Alvair. O segundo movimento é experimentar para validar os atributos com o menor desperdício possível na jornada do cliente: “A gente pesquisa como fazer experimentações simples, de baixo custo e que gradativamente vão indicando se estamos no caminho certo ou se temos que pivotar”. O negócio é moldado à medida que as experimentações, como mínimos produtos viáveis (MVP), são feitas e validadas.

“No momento em que eu entendi os atributos de valor da Braine, eu quis patentear isso na hora porque não tinha nada parecido no Brasil”, conta Cirino ao se relembrar das aulas. “O Braine coloca o ser humano no centro de tudo”, acrescenta. Alvair indica que o paciente é o principal, mas que há uma série de interessados em seu entorno, como psicólogos, psiquiatras, a família, cuidadores e a própria sociedade. “Além de olhar os atributos de valor do cliente, se olha também os dos stakeholders que influenciam na decisão de aderir ao novo negócio”, analisa o professor da FEA.

Alvair ressalta que o grupo se destacou porque modificou a hipótese de valor que a startup tinha. “É um exemplo concreto do modelo lean sendo aplicado”, elogia. Gabriel Cirino solicitou a certificação DNA USP da Agência USP de Inovação (Auspin). Ele diz que o próximo passo é lançar os MVPs e captar investimento anjo para escalar a solução. “Estou levando o que eu aprendi de lean também para a minha pesquisa de doutorado, que é um legado que fica da disciplina. A Braine é um sonho que está se tornando realidade”.

O grupo de pesquisa  Núcleo de Pesquisa Excelência em Operações (Nupexo), do qual o professor Alvair é líder, aprofunda as investigações sobre as aplicações do modelo de gestão lean em contraponto aos modelos tradicionais. O grupo desenvolve pesquisas na área de comunicação, desenvolvimento de produto, empreendedorismo social e economia circular.

Mestrado Profissional em Empreendedorismo

O Mestrado Profissional de Empreendedorismo (MPE) da FEA-USP é focado no estudo da aplicação de processos empreendedores nas organizações, que envolvem ações de renovação estratégica, criação, inovação e geração de novos negócios. O programa abrange três linhas de pesquisa: empreendedorismo, ecossistema de inovação e empreendedorismo e inovação.

 

FONTE: JORNAL DA USP (Lucas Lignon)

 

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