Dr. Matheus Trilico destaca dificuldades no ambiente de trabalho e a necessidade de abordagem multidisciplinar
O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) afeta cerca de 2,5% dos adultos globalmente, impactando milhões de brasileiros. Segundo o Dr. Matheus Trilico, neurologista especializado no atendimento de adultos com TDAH, o transtorno precisa ser encarado de forma mais séria, indo muito além de uma moda passageira. Ele ressalta que mais da metade dos portadores abandona o tratamento e praticamente todos enfrentam dificuldades em manter um bom desempenho no ambiente de trabalho.
O TDAH, conforme descrito no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), se caracteriza por desatenção persistente e/ou hiperatividade-impulsividade, com impacto significativo na vida cotidiana. O Dr. Trilico alerta para a diferença entre episódios comuns de distração e a complexidade de ser diagnosticado com o transtorno, que demanda a presença de sintomas intensos por, no mínimo, seis meses.
No caso de adultos, os sintomas mais recorrentes incluem dificuldades para organização, procrastinação crônica, esquecimentos constantes, impulsividade nas decisões e problemas para manter relacionamentos. “O diagnóstico requer critérios rigorosos, e qualquer impacto relevante em múltiplos contextos deve ser considerado”, explica o neurologista. Além disso, um estudo recente demonstra que até 98% dos adultos com TDAH sofrem prejuízos no trabalho, sendo que 73% enfrentam dificuldades moderadas ou graves.
Ainda assim, o abandono do tratamento é alarmante. Diversas pesquisas indicam que mais de 80% dos pacientes interrompem o tratamento devido a fatores como efeitos colaterais dos medicamentos, altos custos, estigmas sociais e profissionais, dificuldades em seguir a rotina terapêutica e a falsa sensação de “cura” após alívios temporários dos sintomas. O Dr. Trilico enfatiza que esse cenário é um problema de saúde pública, já que as consequências do abandono incluem maior risco de depressão, acidentes de trânsito, desemprego e abuso de substâncias como álcool e drogas.
Para o neurologista, o tratamento eficaz exige uma abordagem multidisciplinar, com medicamentos aliados a terapias, atividade física e estratégias de organização. “O sucesso no tratamento depende da dedicação do paciente e do suporte de uma equipe especializada. Precisamos olhar para o TDAH com a seriedade que ele merece e apoiar esses pacientes em suas jornadas”, finaliza.