As tempestades e enchentes que devastam o Rio Grande do Sul já afetam cerca de 1,4 milhão de moradores. O impacto é ainda pior para pessoas com autismo, que possuem demandas específicas de saúde e podem não se adaptar aos alojamentos coletivos cedidos pelo poder público até agora, estes espaços receberam quase 50 mil desabrigados, segundo a Defesa Civil.
Para ajudar pessoas autistas desabrigadas e seus familiares a lidar com a mudança brusca de rotina, a jornalista Debora Saueressig, 47, e a nutricionista Roberta Vargas, 47, idealizadoras do Instituto Colo de Mãe, e mães de crianças autistas, montaram locais pensados exclusivamente para pessoas neurodivergentes em Porto Alegre. A localidade não será informada por questões de segurança.
“Quando a tragédia começou e nós vimos os abrigos absolutamente lotados, com muito barulho e muito estímulo sensorial, percebemos que precisávamos criar lugares específicos, com profissionais que sabem fazer gestão de crise e que conseguem entender uma dieta restritiva e um comportamento disruptivo”, explica Debora.
“É um cenário de guerra, com helicóptero passando o dia inteiro sobre as nossas cabeças, e não tinha nenhuma iniciativa pensada para esse público. Viemos para tentar ajudar a cobrir uma lacuna, porque sabemos que, se para uma pessoa típica o comprometimento emocional, psíquico e físico já é imenso, para uma criança, um adolescente ou um adulto autista isso é potencializado por mil.”
O abrigo do Instituto Colo de Mãe conta com médicos, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, psicólogos, fonoaudiólogos e farmacêuticos, além de farmácia. Parte da equipe é voluntária e atende os filhos de Debora e Roberta, enquanto alguns profissionais são contratados com recursos captados na campanha de doação promovida pela associação.
Até o momento, a organização atende 30 pessoas. Quando a capacidade (75 pessoas) for excedida, o segundo abrigo deve abrir mais 200 vagas. O projeto se concentra em pessoas neurodivergentes, mas a estrutura também comporta outras pessoas com deficiência.
Tendo em vista que as demandas dos abrigados com autismo são muito variadas, o valor recolhido com doações é destinado para a compra de itens específicos que se adaptem à rotina de cada pessoa, como alimentos, itens de higiene pessoal, brinquedos e equipamentos eletrônicos. Interessados também podem doar água à organização.
Quem precisa de acolhimento pode entrar em contato com as idealizadoras do projeto por meio da página da ONG no Instagram (@somoscolodemae). O contato prévio é importante para entender o nível de suporte e o grau de complexidade de cada caso, e adaptar o atendimento a cada necessidade.
O instituto não recebe crianças e adolescentes perdidos, pessoas com menos de 18 anos devem estar acompanhadas de cuidadores.
FONTE: FOLHA DE SÃO PAULO