Entidades, pais e representantes do poder público apontaram as prioridades para garantir que pessoas com o transtorno do espectro autista tenham suas necessidades e direitos atendidos em todo o Estado
Colher subsídios para a construção do Código do Autismo do Paraná. Este foi o objetivo da audiência pública promovida pelo deputado estadual Alisson Wandscheer, líder do Bloco Parlamentar da Neurodiversidade na Assembleia Legislativa do Paraná, em parceria com a vereadora Nilceia Falavinha e a Ong TEAmo Autista, na noite desta quinta-feira (18) na Câmara de Vereadores de Campina Grande do Sul (RMC).
Segundo o deputado, para garantir que as necessidades e direitos das pessoas do TEA sejam atendidos de fato pela legislação do autismo que está sendo construída na Assembleia Legislativa, é essencial ouvir quem vive o transtorno no seu dia a dia. “É da vivência das famílias, do próprio autista, da experiência das entidades que atuam na área, da visão dos professores da educação especial e dos profissionais da saúde, dos programas governamentais bem sucedidos, que vamos conseguir atingir os objetivos pretendidos. E esse diálogo precisa acontecer nos grandes centros, onde existem boas estruturas para atender esse público, e nas pequenas cidades, onde praticamente tudo se resume à voz das famílias”, disse.
Para ele, a audiência cumpriu o objetivo proposto de mobilizar e ouvir a comunidade local, Ongs, famílias atípicas, profissionais da área e poder público. “Nossa audiência pública na Câmara de Vereadores de Campina Grande do Sul foi muito produtiva e muito positiva para a causa do autismo e trouxe apontamentos importantes para o Código. A minha missão agora é levar as propostas para discussão na Alep e trabalhar para que os avanços sejam significativos para as pessoas com o transtorno do espectro autista e suas famílias em todo o Paraná”, afirmou.
Tendo a neurodiversidade como uma bandeira de mandato, Alisson Wandscheer trabalha para que a nova legislação seja aprovada e sancionada já nos próximos meses. “Precisamos ser assertivos porque a necessidade do autista é agora, no presente. Por isso, esse estatuto precisa ser discutido com a sociedade e aprovado rapidamente pelos deputados. Mas, acima de tudo, tem que ser efetivo, o norte para todas as ações implementadas no Estado daqui pra frente, e tem que alcançar todos as pessoas com transtorno do espectro autista no Paraná”, frisou.
Parceira na organização do evento, a vereadora Nilceia Falavinha afirmou que a expectativa em relação ao Código do Autismo do Paraná é muito grande e que Campina Grande do Sul está dando a sua contribuição para a legislação. “Como o deputado Alisson, também atuo na pauta do autismo e sei da importância de ouvir e entender as demandas da população e de trabalhar para construir políticas públicas que possam atender as necessidades tanto das pessoas dentro do transtorno do espectro autistas como de suas famílias. Por este motivo, decidimos, juntos, promover a audiência pública para trazer esse debate e a conscientização para a população.
Flavia ficou muito satisfeita pelos resultados da audiência e as boas propostas que serão levadas para a Assembleia. “A expectativa em relação aos avanços que a gente precisa ter na pauta do autismo em todo o Paraná e aqui em Campina Grande é muito grande. Aumentou muito o número de diagnósticos e nós temos que adequar o sistema de saúde e de educação para proporcionar qualidade de atendimento a essas crianças que estão sendo laudadas.
Entidades
A audiência pública na Câmara Municipal de Campina Grande do Sul discutiu as demandas e os desafios enfrentados pelas famílias de pessoas com autismo na acessibilidade, educação inclusiva, inserção no mercado de trabalho, apoio terapêutico e social. Debateu o papel do poder público na inclusão e a importância da sensibilização da sociedade no acolhimento de autistas e seus familiares em todos os aspectos da vida cotidiana.
Os palestrantes Fábio Cordeiro, presidente da ONDA-Autismo; Ivony Costa, presidente da Associação TEA-Tecendo Redes para Neurodiversidade; Antonia Cia, presidente da ONG Falando sobre o autismo; Elyse Matos, fundadora do ICO Project; e Leandro Aguiar, presidente da Ong TEAmo Autista, junto com pais atípicos, professores da educação especial e vereadores, destacaram a iniciativa da Assembleia Legislativa do Paraná de reunir todas as leis do autismo em um único documento, derrubando barreiras e dificuldades e construindo ações e programas para ajudar a reduzir as carências e a mudar a realidade desse público. Também destacaram a determinação do deputado Alisson, de levar o debate para os municípios, envolvendo toda a sociedade.
Presidente da Ong TEAmo Autista e parceiro organização da audiência, Leandro Aguiar afirmou que o debate dá voz à família no transtorno do espectro autista. “O debate é bom para a causa. É muito positivo. Parabenizo o deputado Alisson por se aproximar das comunidades, visitar diversos municípios de todo o Paraná para escutar as comunidades de cada região. Quando ele vai na direção de atingir o interior e a Região Metropolitana de Curitiba, ele potencializa a fala das famílias, que geralmente não têm voz. Em alguns municípios são somente as famílias que lutam pela causa do autismo. Esse olhar é muito importante e a gente fica muito feliz que o deputado tenha essa sensibilidade”, disse.
Fábio Cordeiro vê a importância de envolver a sociedade paranaense no debate da neurodiversidade. “Esta é realmente uma iniciativa muito feliz e não tinha mais como esperar. A neurodiversidade está aí, as pessoas autistas estão na sociedade. As estatísticas vêm mostrando que tem mais pessoas autistas, não só crianças, como adolescentes, adultos e idosos, que é uma população que a gente fala pouco. O deputado Alisson foi muito feliz nessa iniciativa de levar o debate para os municípios, não só nos grandes centros. Hoje ele está falando de autismo em cidades grandes e em cidades pequenas, e acho que essa é a grandeza desse projeto da neurodiversidade dentro da Assembleia Legislativa do Paraná”, disse.
Para Cordeiro, não tem como falar em inclusão sem conversar com as próprias pessoas que são alvo dessa inclusão. “Chamar a comunidade toda para ouvir, chamar representantes da causa, pessoas autistas, para falar sobre isso, é o início de tudo para a gente poder cobrar o poder público, para propormos ações que possam auxiliar essas pessoas. Como é importante ver as próprias pessoas com deficiência falando sobre a sua existência e cobrando as suas demandas”, afirmou. À frente da Onda Autismo, Fábio Cordeiro desenvolve um projeto de formação continuada e certificada de professores e profissionais da educação para atendimento de pessoas autistas.
Antonia Cia, da Ong Falando Sobre o Autismo, afirmou que a conscientização prepara a sociedade para receber o autista e sua família. “Precisamos levar essa conscientização para toda a população porque o número de autistas tem aumentado muito. Hoje nós temos um autista para cada 36 pessoas. São pessoas que precisam de algumas adaptações, precisam que a sociedade esteja preparada para recebe-los porque em muitos momentos elas apresentam comportamentos diferentes, têm muitas sensibilidades sensoriais”, disse.
Para ela, o autista precisa estar na sociedade. “Sabemos que a pessoa no transtorno do espectro autista tem muitos direitos, mas esses direitos na realidade praticamente não são respeitados. A conscientização da sociedade visa tudo isso. Visa a melhoria da qualidade de vida dessas pessoas, inclusive das famílias, porque quando nós não incluímos um indivíduo no espectro autista na sociedade automaticamente excluímos a família também. Ao conscientizar, fazemos com que o autista e sua família estejam na sociedade fazendo parte de tudo aquilo que eles têm direito. O autista é um ser humano e precisa se desenvolver como qualquer outro indivíduo”, afirmou.
Antonia destacou o papel do legislativo estadual na inclusão. “Quanto mais deputados na Assembleia Legislativa falando sobre o autismo e a neurodiversidade, mais oportunidades essas pessoas terão na sociedade”. Ela também parabenizou o deputado Alisson por envolver a sociedade na causa. “Esta abertura que o deputado Alisson está dando à sociedade, levando o autismo ao debate, é extremamente importante. Eu gostaria de parabeniza-lo pela iniciativa de levar o tema para todas as cidades.”
Elise Matos trouxe para a audiência o seu trabalho de coordenação do treinamento parental da Organização Mundial da Saúde (OMS), desenvolvido no Brasil com exclusividade pelo Instituto Ico. “Nós implementamos esse método no país, mostrando que é uma maneira viável e sustentável de colocar os pais dentro da intervenção, que é intensiva e de longo prazo. Elise também enalteceu o envolvimento da sociedade e do poder público no debate sobre o autismo. “Desde 2014 o autismo é tido como um alerta de saúde pública. Antes não se falava quase sobre o autismo e hoje se fala muito porque a prevalência é muito grande. Então a gente está dizendo que existem vários usuários do SUS, dos municípios, das escolas municipais e estaduais que precisam de apoios diferenciados para que atinjam o seu potencial. A iniciativa do deputado Alisson e da vereadora Nilceia é maravilhosa porque traz a cidade ao debate e incita o poder público, o executivo, a agir em prol dessa população”, afirmou.de
Presenças
Participaram da audiência pública, o vice-presidente da Câmara de Vereadores de Campina Grande do Sul, Felipe Veiga, e os vereadores Anderson Cardoso, Artemio Cavalheiro e Renê Renemann, os vereadores de Quatro Barras, Edson Negão e Kayo Augustus, a deputada estadual Flavia Francischini, representantes da educação especial do município, mães e pais atípicos.